quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Memórias (de Zeca)

Faz hoje vinte e cinco anos. Cresci, de repente, pessoal e profissionalmente. Estava de serviço na redacção da Rádio Azul (Setúbal) e fui (provavelmente) a primeira jornalista a noticiar aos microfones de uma rádio, a partida de Zeca Afonso. Interrompemos a emissão pouco depois das três da manhã. As horas que se seguiram foram de muito trabalho, emoção, crescimento. As horas e os dias. Lembro-me de terminar o turno, por volta das 07h e ficar... Mais tarde, fui dormir... tentar. Ao principio da tarde, já me estavam a telefonar. Trabalho... acompanhar o velório na antiga Escola Comercial de Setúbal, onde se vivia um clima meio "pesado". A então governadora civil do distrito de Setúbal, Irene Aleixo, tentou proibir o velório no local alegando que os alunos ficariam afectados. Mas os amigos do Zeca levaram a melhor. Passei a noite a ouvir falar de Zeca... com os amigos e anónimos, tantos, tantos, tantos, que ali acorriam. Eram filas intermináveis de pessoas que queriam despedir-se do ultimo trovador.
Há um pequeno pormenor que me apetece partilhar. Enquanto não tive meios próprios para entrar em directo na rádio, usava o telefone do estabelecimento de ensino, sempre lotado... até que um elemento do conselho directivo permitiu que usássemos o telefone do gabinete. Estava em directo, quando de repente me nasceram quatro riachos nos olhos. Creio que a voz tremeu no final... e quando acabei, recebi um enorme abraço da (minha antiga) professora Antónia Freitas que em jeito de consolação afirmou: "Oh! Nunca me passou pela cabeça ver a maluca da minha ex aluna chorar"...
Desse tempo tenho mais uma memória... quando tive meios próprios para o directo, um simples walkie-talkie, e quando já me sentia a "ir abaixo", o técnico de serviço no estúdio, (o meu amigo) Joaquim Herrera, dizia-me umas "palavrinhas de alento".Que ajudaram e incentivaram imenso! Obrigada meu querido Quinzinho!
Nesta partilha de memórias há uma outra dos tempos de infância... quando ouvi um disco "proibido" do Zeca. Gostei tanto que mais tarde, até cantarolei, na via pública. Voz amiga disse-me que não podia, nem sequer contar a ninguém, ou comentar com quem estava nesse dia. Aprendi, cedo, o valor da confiança, da cumplicidade e da amizade.




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