quarta-feira, 5 de março de 2008

O beijo do sol

Naquele dia acordou com zangada com o mundo. Com vontade de bater em alguém. De arrasar com palavras quem lhe aparecesse. Resmungou com as paredes, insultou as portas, praguejou no chuveiro. Comeu qualquer coisa e gritou com a televisão. Ouviu o apito longínquo do comboio e sugeriu-lhe um destino pouco convencional. Abriu as janelas e fumou o primeiro cigarro, como se fosse o último.
Olhou para para o sol como se fosse a primeira vez e derreteu-se num sorriso imenso. E deleitou-se com o que restava daquele cigarro. O sol piscou-lhe o olho, cúmplice, a lembrar que estava sempre ali. Incondicional. Mesmo nos dias de chuva. O sol era fiel e tinha forma de gente. O sol dava-lhe abraços e mimos. Sem palavras, falava-lhe de amor, de afectos, de ternura, de esperança.
Beijou o sol, de mansinho, à distância. Acendeu outro cigarro, devagar. Sentiu o beijo do sol. E sentiu a alma lavada. Deixou-se ficar, à mercê dos beijos do sol e dos abraços do vento.
Quando sol se foi embora, sentou-se frente ao computador e escreveu. Inspirada, escreveu, escreveu, escreveu... e depois mandou tudo num e-mail. Para o Sol. Com muitos beijos.

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