quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Memórias... de azul!

Esta tarde, durante as compras numa grande superfície, ouvi uma música que me fez lembrar os meus tempos na rádio. A audição de "A Primeira Vez", dos Delfins, despertou-me as memórias adormecidas da Rádio Azul onde "vivi" durante doze anos. Senti uma coisa estranha... as memórias moveram-se, repentinamente, cá dentro.
Não gosto de sentir saudades. As saudades fazem doer. As saudades são como beijos de papel e abraços de areia. Não resistem à chuva. E também não gosto de chuva. Gosto de beijos de afecto e abraços de ternura. Que se colam à pele, em todas as estações do ano. E gosto de sol.
Da Rádio Azul separa-me uma década, como se fosse um rio. Que me leva para mais longe. Para o mar. E depois, para porto seguro.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Vertigem

Acabo de te ver, de fugida e ao longe! Apeteceu-me abraçar-te. Mas estás longe. E tão perto no meu coração. Vou abraçar-te com palavras. Vou escrever-te, agora.
Sabes, às vezes comovo-me, quando escrevo. E sinto o coração bater mais forte como se fizesse nascer as palavras que escrevo. E os meus dedos martelam o teclado vertiginosamente para evitar que as palavras fujam. E, enquanto escrevo sinto que o meu coração se enche de ternura.
E comovo-me e enterneço-me sempre que escrevo para ti.

Como se fosse primo

O Carlinhos faz anos hoje. Muitos! Tantos como os que eu tenho. E ele não gosta nada de dizer quantos anos tem. Azar. São 45! E também temos o mesmo apelido. Com a mesma boa vontade com que revelei a idade do Carlinhos, escrevo estas linhas, só para ele. Porque merece. Porque é (quase) da família, por ser um querido, porque lhe chamo amigo e às vezes outras coisas que... só chamo aos homens de quem gosto.
E eu gosto muito do Carlinhos, mesmo quando ele é um chato e se torna quase peganhento como os caramelos. E também é doce. Como os rebuçados! E dá uns abraços apertados, que me fazem sentir o lado bom da vida. E é sensível, ou melhor, é um chorão. Comove-se facilmente e abre as comportas da sensibilidade. Aposto que vai chorar muito quando ler estas linhas.
Pois é! Eu gosto mesmo muito do Carlinhos, já toda a gente percebeu. E tenho saudades dele. Saudades da cumplicidade, da piscadela de olho e de o ver comer alarvemente, como se não houvesse amanhã. E também tenho saudades de o ouvir falar das filhas, com aquele brilhozinho nos olhos. E de o ouvir falar da Isabel, a quem chama "a minha senhora".
Agora vou oferecer estas linhas ao Carlinhos e preparar-me psicologicamente para a reacção dele. Vai chorar e chamar-me "croma".
E, meu querido amigo, eu também gosto muito de ti.
Um beijo
Adelaide

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Poemas de muito afecto

O sol está meio escondido atrás daquele prédio. Pisca-me o olho, lembro-me de ti. Sorrio. Fico à espera de te voltar a ver. Tu e o sol. Fumo um cigarro enquanto espero. Mais uma piscadela de olho e continuo à espera. O sol não vem e tu também não.
- Vem cá, sol. Vou escrever-te um poema…
Mas o sol não veio. Não podia. Tinha um encontro marcado com o mundo no outro lado do rua. E tu também.
Fumo mais um cigarro e escrevo um poema. Para ti e para o sol. Porque te adoro.
Envio-te o meu poema. Antes de dormir, recebo o teu. Escreveste “gosto de ti”. No meu coração!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A esperança tem olhos verdes

Acordei com vontade de te escrever. Fui à janela e vi o sol. Lembrei-me de ti. E sorri. Sorrio sempre que me lembro de ti. E lembro-me do teu sorriso. Combina bem com este céu azul e este sol dourado. Combina na perfeição com o mar. Gosto tanto do mar e... gosto tanto de ti.
Há coisas que nunca mudam. Como esta vontade de te escrever, mandar-te uma mão cheia de beijos, dizer-te (lembrar-te) que és muito importante para mim. Por me fazeres sorrir e acreditar.
Sabes, a esperança tem olhos verdes e eu gosto tanto de olhos verdes. E gosto de conversas olhos nos olhos. Os olhos são o espelho da alma e os teus reflectem bondade, nobreza, autenticidade.
Olha, vou mandar-te este post, agora. E uma mão cheia de beijos, grandes.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Pelo sonho...

Chegaste devagarinho, pela calada da noite. Silencioso e envolvente embalaste-me o sono. No teu abraço, deixei-me aconchegar. Nos teus beijos descobri os mais requintados e doces paladares da ternura. Mergulhei nos teus olhos para te conhecer melhor, entrei na tua alma para ouvir o bater do teu coração. Na lareira, o fogo consumia o resto da noite.
Dizias-me: "Pelo sonho é que vamos. Vamos correr atrás do sonho. Pelo sonho é que vamos". Sem saberes, falavas-me do meu poema preferido, quase roubavas ao poeta da Arrábida, as palavras que me sussurravas ao ouvido.
O fogo da noite extinguiu-se. O sol acordou preguiçoso e o teu coração mudou de rumo. De repente, percebi que nunca mais contaríamos juntos as estrelas. E se calhar, nunca mais vamos partilhar nem um mísero cigarro.
Corremos ambos atrás do sonho. Pelo sonho é que vamos. Em lados opostos do mundo, no lado errado da vida.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Todos os beijos

Salgados, com sabor a mar
às vezes misturados com lágrimas
Doces, como mel,
que se colam aos lábios
à pele
Rápidos, quando o tempo escasseia
e quando não queremos dizer adeus
Fugitivos, que se evadem dos lábios,
às vezes envergonhados
Demorados,
também doces, com os lábios colados
Barulhentos, lembram o canto dos passarinhos
Grandes, todos os beijos
dados com amor.

Horizonte

O mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe,e o Sul sidério
'Splendia sobre sobre as naus da iniciação.
Linha severa da longínqua costa
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.
O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte
Os beijos merecidos da Verdade.

Fernando Pessoa

sábado, 19 de janeiro de 2008

Sulcos da Sede

É apenas o começo.
Só depois dói, e se lhe dá nome.
Às vezes chamam-lhe paixão.
Que pode acontecer da maneira mais simples:
umas gotas de chuva no cabelo.
Aproximas a mão,
os dedos desatam a arder inesperadamente,
recuas de medo.
Aqueles cabelos,
as suas gotas de água são o começo,
apenas o começo.
Antes do fim terás de pegar no fogo
e fazeres do inverno
a mais ardente das estações.


Eugénio de Andrade, Sulcos da Sede

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Pschiu!!!

O silêncio faz muito barulho.
A solidão faz muito, muito barulho.
As saudades fazem demasiado barulho.
Preciso de ouvir
o bater do meu coração
os meus passos pela casa
os meus pensamentos
e tudo faz muito barulho!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Segredo

A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.

Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.

Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.

Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Uma questão de credibilidade

O primeiro ministro, José Sócrates, anunciou hoje a construção do novo aeroporto em Alcochete, com base num estudo do LNEC. Isto acontece oito meses depois do ministro das Obras Públicas, Mário Lino, ter afastado essa hipótese com o pretexto de que a Margem Sul é um deserto.
De repente, o deserto transforma-se em oásis, ganha um novo aeroporto e um nova ponte... E o mesmo ministro dá agora o dito por não dito.
Se calhar este ministro não sabe o que diz. Se calhar este governo não sabe o que faz. Se calhar o deserto afinal não tinha dimensões para um rally Lisboa - Alcochete, à falta do Dakar. Se calhar faltaram camelos... de facto, na margem sul não existem. É fácil adivinhar onde estão!
E vão todos para Canha, que por acaso até é freguesia do concelho do Montijo, enaltecer as qualidades da localização do novo aeroporto.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Regressos

São renovações,
poemas de esperança
reencontros de bem querer.
Poder tocar as estrelas
voar nas asas do vento
Brincar nas nuvens
e beijar o sol.
E beijar-te!
Até amanhã

Auto retrato

Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantesno navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.

Natália Correia