sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Flores e Poemas


Para um valente. Para um homem muito generoso.
Para o meu amigo Helder Pires


Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flôr no ramo
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praias do mar nos vamos
À procura da manhã clara

Lá do cimo duma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noita inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo duma montanha

Onde o vento cortou amarras
Largaremos pela noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca

José Afonso In "Canto Moço"

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Flor de sol



Hoje acordei com mau feitio. Acordei zangada com o mundo. E quando abri a janela, o sol resolveu brincar às escondidas. Assim, eu não brinco. Quando estou zangada comigo e com o mundo, não brinco. Quando estou zangada, fico com rugas na testa, quais sulcos das minhas mágoas. Quando estou zangada, fico triste e só me apetece fazer birra.
E também me apetece abraçar-te. E estás tão longe. Acho que é por isso que estou com mau feitio. Porque me apetece o teu abraço, por querer tanto deixar-me embalar pelos teus mimos. Os teus mimos, meu amor, são como o sol. Fazem-me sorrir. Aquecem-me o coração e lavam-me a alma. Dão brilho aos meus olhos. Os teus mimos são da cor do sol dourado de muita ternura.
Os teus mimos bordam a minha vida de esperança, de afecto, de sabores e cheiros de felicidade. Deixo-te uma flor, da cor do sol. E um beijo.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

(O que) Faz falta

02/08/1929 - 23/02/1987
À memória do último trovador

"Quando a corja topa da janela

O que faz falta

Quando o pão que comes sabe a merda

O que faz falta

O que faz falta é avisar a malta... "

José Afonso in "O que faz falta"

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Deixem a noite sonhar

A noite vestiu-se de estrelas. Tinha um encontro marcado. Com o Amor. E deixou-se levar pela magia. Dançou ao luar, embalada pelas baladas do vento. Brincou com as nuvens e comeu pétalas de rosa. Bebeu vinho tinto, por ser a cor da paixão, comeu todos os manjares que a ternura lhe oferecia...
A noite envolveu a terra de mansinho e abraçou todos os namorados. E abraçou o Amor. Um abraço intenso, envolvente, como se fosse para sempre! Saboreou os beijos de Amor e aos poucos foi-se despindo de estrelas. Estava só, com o Amor. E aquele era o momento...
- Oh noooooite, acoooooorda! - gritou o sol - Tenho que ir dormir, já é tarde. Muito tarde!
A noite esfregou os olhos, vestiu-se negro e foi à procura do vestido de estrelas, da dança da lua, das pétalas de rosa e do vinho tinto que tinha sobrado do sonho. E cumpriu mais uma estrofe do fado errante, à procura do Amor.
A noite não gosta desse fado. Eu também não.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Como se fosse diamante

A amizade é um estado de graça e de bem - querer. É “coisa” de coração e de pele. De coração, por tocar a corda certa do violino dos afectos, de pele porque se pode sentir. Em nome da amizade pintam-se sorrisos, semeia-se a esperança, constroem-se palácios de afectos para receber e aconchegar os amigos. Na amizade, um sorriso é um diamante de muita ternura, e o afecto um presente do céu.
A amizade torna-nos seres humanos mais bonitos e sentirmo-nos pessoas lindas. Amizade é gostar, gostar muito e estar sempre disponível para gostar, mimar, abraçar, sorrir. Para mim, a amizade é um outro amor, amor maior, amor mais alto, que dou sem pensar no que vem a seguir porque – simplesmente - gosto de dar. E gosto de ti. É por isso que te chamo meu amor!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Estados de Alma

Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou película de loiça
que apenas com o pensar te pudesses partir
(António Gedeão in "A um ti que eu inventei")
O sol escondeu-se e o céu acordou a chorar. O dia nasceu e cresceu cinzento e já sei que esta
noite a Lua não vai sorrir para mim. Há dias assim... em que a alma fica espartilhada pelas saudades e as saudades são como beijos de papel. Não resistem à chuva...
Hoje apetece-me tanto o sol e o céu azul que vão ficar para amanhã. Hoje apetece-me imenso o sorriso da lua e o brilho das estrelas que me fazem lembrar os teus olhos. Hoje apetece-me quase tudo o que não posso ter hoje. E fico assim. Da cor do tempo. Cinzento. E cinzento não é cor de nada que me faça sorrir. Cinzento lembra a vida a fugir, como se fosse areia a escorrer pelos dedos.
Em dias assim, só há uma coisa a fazer. Escrever. Escrever-te. Como faço nos outros dias também. E mimar-te. Ainda mais! Contar-te o que vai dentro de mim e mimar-te com as palavras que te escrevo. Como se cada palavra fosse um beijo, cada virgula um abraço. E já estou bem melhor, agora. Penso em ti e começo a sorrir, escrevo-te e volto a sorrir. E comovo-me também. E agradeço ao céu - que ainda está com a birra - ter-te na minha vida. Todos os dias. Incondicionalmente. Mesmo quando sol se esconde.

A um ti que eu inventei

Pensar em ti é coisa delicada.
É um diluir de tinta espessa e farta
e o passá-la em finíssima aguada
com um pincel de marta.

Um pesar grãos de nada em mínima balança,
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criança.

Um desembaraçar de linhas de costura,
um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,
um planar de gaivota como um lábio a sorrir.

Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou película de loiça
que apenas com o pensar te pudesses partir.

António Gedeão

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Aos amores


Uma rosa para mim. Porque adoro rosas. Rosas de todas as cores. As rosas lembram-me a vida e também gosto da vida. As rosas lembram-me o amor e gosto muito do amor. Os amores podem ser o que nós quisermos. Amores maiores, amores mais altos, amores de muito Amor. O amor é o principal motor da vida. Sentir amor, todos os amores, é um estágio especial da vida. Amar e ser amado é inerente ao ser humano. É preciso amar e ser amado para ser feliz!
Viver sem amor é estar hibernado na vida. É semi-viver. É não viver. É preciso amar. É urgente amar. É urgente que venha o amor. Amor que nos põe os olhinhos mais brilhantes, que faz o coração bater mais depressa e incendeia a alma. Amor que desassossega os sentidos e faz voar nas asas do sonho que ficou maior. Viva quem ama e sabe amar. Viva quem ama e é amado. E viva eu que não sei - e não quero - viver sem amor.
Hoje ofereci-me uma rosa. Porque as rosas falam de amor. E eu gosto de ouvir falar de amor. E gosto de acreditar que algures existe uma praia deserta e um pôr do sol incandescente, vermelho de amor e paixão, à minha espera... Uma praia (quase) deserta onde possa ouvir o mar embalar a terra com canções de amor, enquanto o amor me embala também. E na areia, uma rosa, muda testemunha desse amor.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Um amor assim

Hoje, o sol foi-se embora mais cedo. Deixou um abraço intenso de vermelho, intenso de fogo, intenso de fogo e vermelho de paixão. Paixão pela lua, que está do outro lado do mundo. E a lua retribui. À noite envia-lhe beijos e sorrisos e mostra-lhe as estrelas que são filhas dos dois.
O sol e a lua amam-se desde o dia da Criação. Olharam-se e sentiram-se tocados por um grande amor que sabiam (quase) impossível e eterno. E por amor, decidiram ficar juntos, em lados opostos no mundo. Por amor!
Amanhã, o sol e a lua vão encontrar-se e vai nascer mais uma estrela no céu.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Conversas com a lua

A lua parecia um sorriso de prata pendurado na noite. Um imenso sorriso perfeito, autêntico, espontâneo e lindo. O sorriso da lua lembrou-me alguém. Alguém que sorri como a lua. A lua era o espelho desse sorriso. E cúmplice, a lua piscou-me o olho. Já sabia quem estava ali. "Gostaste da surpresa?", perguntou a Lua. "Adorei!", respondi. E o resto da conversa fica entre nós. Longa conversa a rasgar a noite. E a lua sempre a sorrir.
Saboreavamos as palavras como se fossem cerejas. Até que a lua disse que ia fazer ó-ó. Pedi à lua que ficasse só mais um pouco. Ela riu-se: "Ah ah ah.! Sabes que não posso. Tenho um encontro marcado com o mundo, do outro lado do rio. Dorme bem. Beijinhos, até amanhã!"
Adormeci embalada pelo canto angélico das estrelas, que a lua deixou ficar. Para mim. Ontem à noite a lua sorriu. Para mim. Sei que esta noite a lua vai voltar... Para mim!
Até já!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Oh Rosa arredonda a saia

Esta história tem quase vinte anos.
Do tempo em a Lambada reinava nas discotecas ,
a malta tinha pouco juízo e muita vontade de rir.
Depois de uma maratona eleitoral, a malta ruma à discoteca, para descomprimir. Num carro super superlotado. Rasgámos a noite, por entre as caravanas da vitória. E fomos dar todos ao mesmo sítio. Bebidas, whishy, pois claro. Duas senhoras casadas optaram por sumo de laranja, embora não tivessem que conduzir. Bebeu-se o primeiro gole e ala para a pista. De vez em quando fazíamos uma visita à mesa, para fumar um cigarro e molhar a garganta. Os copos de sumo estavam quase cheios e os de whishy quase vazios. Veio a segunda rodada, servida generosamente ao sabor da vitória. Decidimos partilhar com os copos de sumo.
A "ala sumo de laranja" tinha dançado tanto, estava tão sedenta que emborcou metade do que havia nos copos. Ouviram-se queixas; o sumo sabia mal. "É sumo natural. Nesta altura, as laranjas estão azedas", justifiquei. Acreditaram!
E voltamos todos para a pista. A música rasgava a noite, a dança secava a garganta. A "ala sumo de laranja" bebeu generosamente mais uns tragos. E quando começou a "Lambada", ficámos todos pasmados... A "ala sumo de laranja", no meio da pista, fazia lembrar os bailes da aldeia, onde as mulheres dançam umas com as outras. Pois, elas dançavam juntas. E uma delas dizia: "Vê lá se aprendes a dançar. É assim!". E enquanto ensinava, cantava "Oh Rosa arredonda a saia...". E a "Lambada" ali tão perto.
A noite acabou a cafés sem açúcar, para as duas que não paravam de resmungar que tinham dores de cabeça e que os sumos da discoteca eram muito, muito azedos.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Mergulhos

Apetece-me ver o mar, mergulhar os olhos no imenso azul e um banho de alma nas ondas desfeitas. Apetece-me entornar a taça da saudade, beber um copo cheio de ternura e comer uma travessa cheia de beijos que me saibam a búzios. E a mar também.
Apetece-me o grito longínquo das gaivotas, o riso dos golfinhos e uma canção de embalar. Também me apetecem as trovas de Adriano e uma balada do Zeca, um poema de Sebastião da Gama e um outro de Gedeão.
Apetece-me um mergulho nos olhos verdes da amizade, um abraço apertado que me faça sentir o lado doce da vida e apetece-me mandar-te um beijinho. Cá vai!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Beicinho


Eu: Assim não vale! Vocês compraram-me uma bóia pequenina. Não perceberam que esta bóia não me serve?
(Bla,bla,bla,bla, bla,bla)
Eu: Ah, não é uma bóia. É para brincar. Como é que se brinca?
(Bla, bla, bla, bla, bla)
Eu: E atirar coisas ao ar, é brincar? E se acerto num passarinho? E se isto me cai em cima? Depois faz dói-dói.
(Bla, bla, bla, bla, bla, bla)
Eu: Ah, pois é. Vocês os "grandes" têm sempre resposta para tudo. Agora os passarinhos não voam baixinho. Se eles quiserem, eles voam! Os passarinhos são livres e podem voar para onde eles quiserem e à altura que eles quiserem! Prontos!