"Pelo sonho é que vamos, Comovidos e mudos. Chegamos? Não chegamos? Haja ou não frutos, Pelo Sonho é que vamos. Basta a fé no que temos. Basta a esperança naquilo Que talvez não teremos. Basta que a alma demos, Com a mesma alegria, ao que é do dia-a-dia. Chegamos? Não chegamos? Partimos. Vamos. Somos" - Sebastião da Gama,in "Pelo Sonho é que Vamos"
quinta-feira, 28 de junho de 2007
Clube dos poetas
Aqui degustam-se as palavras que se escapam dos dedos,
nos momentos da criação.
Aqui mergulha-se nas penas inspiradas dos vates de todos os tempos.
Aqui cabem todas as palavras, escritas com amor
Cochat Osório é o primeiro convidado
Paisagem
além da fortaleza sonhadora,
das acácias em flor,
da cidade espalhada em colinas,
da cascata de vidros nas encostas,
do vôo disparado daquele patos
e do calor de tua mão,
no fundo,
feito paisagem indiferente,
o ruído do mar.
Monótono, constante, distraído,
marcando-me o compasso ao pensamento.
E o pôr-de-sol, as nuvens cor de fogo,
a cinza abrasada, um dongo na baía,
a fortaleza debruçada, além,
como quem espreita para além do mar...
Toda a beleza cálida me fere,
só porque o mar, monótono, indiferente,
repete aquelas frases, cáusticas, brutais,
que eu trouxe no meu peito com vinte anos
os versos de combate,
o meu olhar altivo,
as horas de visão
e os passos muito incertos e tão fortes
que eu sentia no rumo do futuro.
Há uma sombra no céu
e uma névoa nos meus olhos.
As janelas apagam-se em penumbra,
o dongo atravessou a água mansa
e a tua mão aquece a minha mão.
E a tua mão aquece a minha mão.
Crispas os dedos, sentes esta angústia:
a beleza completa-se com dor.
Ao fundo, o mar,
o mar que nos embala e nos conforta, o mar...
Ó meu amor, e diz, eu ouço, ele diz,
que a alma não está gasta,
a ânsia não está morta,
se os olhos são capazes de chorar!
Cochat - Osório (No reino de Caliban II - antologia panorâmica de poesia africana de expressão portuguesa)
domingo, 24 de junho de 2007
Memórias de um búzio
sexta-feira, 22 de junho de 2007
"Via sacra" de beijinhos

Dá um beijinho a esta senhora, que é muito amiga da avó!”. E pronto, lá começava a “via sacra”... Tantas amigas que a avó Adelaide Manso tinha; perdi a conta aos beijinhos que dei e recebi no percurso “casa da avó” - “Loja do sr. Pedro”, “casa da avó” – mercado, “casa da avó” – “qualquer ponto da vila de Sesimbra”. Às vezes, pensava - ingenuamente - que toda a gente tinha saído à rua, só para me obrigar a dar beijinhos...
A recompensa vinha com as idas à praia, os passeios pela marginal e pela praia com o avô Zézinho, os saborosos gelados da Luisa e do Manel Agostinho, as histórias que os pescadores contavam na “loja de companha”, os jantares em família, o sorriso de satisfação lá em casa quando os barcos "voltavam do mar", com o nível da água muito próximo da amurada, sinal promissor de faina próspera.
Desses tempos guardo ainda alguns búzios e conchinhas que encontrei perdidos na praia durante os passeios de fim de tarde com o avô Zézinho. Desses tempos guardo na memória a vista impagável da velhinha casa dos meus avós no Bairro Infante D. Henrique; dali via toda a baía de Sesimbra, o porto de abrigo e até parte da praia. Nessas alturas sentia que aquele mar também era um bocadinho meu e quando estava a adormecer, achava que as ondas me cantavam canções de embalar.
quarta-feira, 20 de junho de 2007
Gente de (muito) ouro

Elogio da partida
terça-feira, 19 de junho de 2007
Diário de bordo
segunda-feira, 18 de junho de 2007
Scotex folha dupla
Procurei um determinado site - que a iria deixar furiosa - e com um clique, partilhei o som algo arrepiante com toda a redacção. Para melhor saborear o meu triunfo ofereci à minha colega um dos meus melhores sorrisos e num gesto bem infantil, deitei a lingua de fora.
A coisa estava a correr bem até que o nosso chefe fez valer o mau feitio que o caracterizava e "docemente" recomendou que se acabasse com a sinfonia.
"Por isso mesmo, vou aproveitar cada ausência dele", respondi.
"Ai é? Então cada vez que ele sair, eu vou atrás dele e pronto" - afirmou.
"Olha lá, e quando o senhor for à casa de banho, também vais atrás dele? - perguntei.
"Quando ele for à casa de banho, vou atrás dele e até lhe limpo o rabinho com scotex folha dupla!", concluiu.
quarta-feira, 13 de junho de 2007
Quinzinho, minha "p..."

terça-feira, 12 de junho de 2007
A força das palavras

Aos onze anos, finalmente, percebi o conteúdo de um discurso político. As palavras povo e liberdade, ditas por Odete Santos, eram tão simples, tão bonitas e entravam facilmente, também, no coração. Gostei tanto do que ouvi, que só uma imensa timidez me impediu de dar um abraço à oradora.
Por esses anos, em que Portugal saciava a fome de liberdade, em que os espectáculos de “Canto Livre” se multiplicavam nas colectividades e nas escolas, tive a oportunidade de ouvir varias vezes Odete Santos falar daqueles novos conceitos que tinham passado a fazer parte do nosso quotidiano. Conceitos e valores oferecidos pela jovem democracia, que Portugal saboreava no banquete da liberdade. Também por essa altura, ouvi Odete Santos dizer poesia e novamente fiquei rendida, também ao talento.
Anos mais tarde, tive oportunidade de a conhecer pessoalmente (aposto que nem sonha o quanto se tornou importante na formação da minha consciência política); a bondade e a simpatia da – até há bem pouco tempo – deputada, proporcionaram uma relação de admiração, respeito e também de amizade.
Trinta e poucos anos depois de ter ouvido aquela primeira intervenção politica que tanto me sensibilizou, a simplicidade e o registo pausado e emocionado de Odete Santos continuam a surpreender-me e a comover-me. As palavras ganham força, as palavras lavam a alma, as palavras são o pão da esperança; as palavras são doces, amargas, contundentes, apaixonadas, sonhadoras, são tudo o que esta – grande - mulher quiser.
segunda-feira, 11 de junho de 2007
O melhor exemplo
Com ele reaprendo todos os dias a importância do empenho, do rigor e da isenção e até as palavras mais convenientes a dizer na hora do aperto (e aplicadinha, repito com bastante agilidade). Com ele reaprendo também diariamente valores seguros para a vida como a dimensão do respeito e da amizade.
O meu “pai profissional” é a candeia sempre acesa que me ilumina mesmo na noite mais escura. Quando faço algum disparate, sou “docemente” criticada e chamada à razão. O Jorge é um homem de princípios, isento, cheio de bom senso. Os sábios ensinamentos que me tem transmitido estão gravados na memória e no coração com letras de ouro.
Há muitos anos deu-me uma lição preciosa: “Esta sala onde trabalhamos chama-se redacção porque é aqui que escrevemos, que pomos à prova a nossa independência e a nossa criatividade. No dia em que deixares que alguém te dite uma notícia, muda o letreiro desta sala e chama-lhe ditado”.
É por isso que me orgulho de ter trabalhado numa redacção que nunca mudou de nome; num espaço feito catedral pelos bons exemplos do Jorge, a quem tenho o privilégio de chamar também Amigo.
O respeito, a admiração e o afecto que tenho por este homem, grande de coração e verticalidade, dão-me diariamente força e coragem para lhe seguir os passos. Porque existem valores mais altos que vale a pena cultivar.
As Rotas do Sonho
