terça-feira, 19 de junho de 2007

Diário de bordo


Navego, por esta altura, numa noite de muitos mares desconhecidos. Lá longe, faróis amigos guiam-me na escuridão e ajudam-me a não encalhar nos recifes. Este barco que me leva - acredito - a um porto promissor tem o leme à solta. Por isso, deixa-se ir, um pouco à bolina, sabendo que a terra prometida está ali, ali ao fundo, por detrás de um outro cabo de boas esperanças que a força dos ventos - também - de afecto me ajuda a dobrar.
Esta é uma viagem quase solitária. Tenho tudo o que preciso para chegar a bom porto. A bússola da vontade, as velas da esperança, os motores das solidariedade, os salva vidas do respeito, as bóias da dignidade. E o barco, é da melhor construção, feito com as melhores madeiras dos bosques da paz, calafetado com pensamentos de amor...
Tenho, à minha espera, uma baía com muitos barcos de pesca, também próspera de luz, afectos e outras riquezas. Até lá chegar, a minha alma alimenta-se de cenários de mar e ternura. A fome de escrita é naturalmente saciada na magia das palavras que me escapam dos dedos, a sede de chegar é acalmada por um desejo (maior) de missão cumprida. Da cabine de comando, onde sou mestre e tripulação, comandante e pescador, vigia e condutor, avisto espadartes solitários cavalgando imponentes ondas de bem querer, também golfinhos brincalhões que me oferecem sorrisos de liberdade, cardumes de peixes que a lua transformou em rios de prata... O canto nostálgico da gaivota lembra um fado de saudade e consigo ouvir os gemidos da guitarra; o chapão (na água) do alcatraz que quase milagrosamente avistou um peixe no oceano profundo, desperta-me para outras melodias.
Andam por aqui umas ondas mais impacientes, facilmente ultrapassadas pelas outras correntezas de harmonia. Umas e outras são verdes; verde escuro da pressa, verde azulado da esperança, verde clarinho da tolerância. Umas e outras deixam-me correr atrás do sonho, deixam-me acreditar também, permitem-me despertar para o sonho (mais alto) de alcançar o meu porto seguro.
Nesta viagem tenho ainda uma canção de embalar cantada pelos sons do mar no silêncio da noite, um céu de muitas estrelas brilhantes e uma lua de prata que quero partilhar, e um pedaço de sol feito amizade, feito o ouro que guardo ciosamente no baú dos afectos.

1 comentário:

Jorge Henriques Santos disse...

Cara Amiga
Vale sempre a pena o sonho. Penso, pelo que te conheço que o teu baú dos afectos deve guardar momentos preciosos, memórias esquecidas mas que são tão fáceis de recuperar, basta querer.
Força para este teu trabalho, que mesmo em forma de um blog, se torna um espaço de reflexão importante, construtivo e com textos mistos em ternura e sabedoria.
Obrigada por partilhares connosco

Vanda Pinto