quarta-feira, 20 de junho de 2007

Elogio da partida

Já todos nós sentimos um dia vontade de partir mesmo sabendo que deixamos um pedaço de nós. E partimos, porque sim. Porque as outras razões já não interessam e embora a viagem não tenha sido planeada assim, os outros motivos não merecem sequer comentários. Falta-lhes consistência, falta-lhes coerência, falta-lhes todos os pedaços da razão. São faltas que a capacidade de perdoar dificilmente desculpa, são coisas que o melhor é deixar nas mãos do tempo que de certeza as vai direccionar para o caixote do esquecimento profundo.
As partidas também podem ser libertadoras. As partidas também podem ser um caminho de esperança. As partidas também nos permitem descobrir novos jardins onde podemos criar as sementes de esperança que tanta gente bonita plantou no nosso coração. Sementes regadas com afecto, adubadas com a generosidade que aprendemos todos os dias também no abraço que se dá quase a correr, também quando aceitamos a mão que se estende e quando também estendemos a nossa mão.
Nas partidas pouco planeadas o melhor é não levar muita bagagem. Três ou quatro cd's armanezam bem os ficheiros do computador. Enquanto isso, o coração já foi arrumado para criar mais espaço para as emoções. E são tantas e são tão boas. São o reverso da medalha cinzenta da partida; são o motor da coragem que quase se esvai na força do abraço que apetece eternizar, são a força que também impede e às vezes impele a descoberta das cataratas de águas limpas escondidas em cada olhar.
As partidas também são dores que só nós podemos curar. Porque os afectos são para sempre, todos os que amamos estão para sempre no nosso coração, pintam-nos a alma todos os dias com as mais bonitas cores do arco iris. As partidas também são desafios à capacidade de amar, perdoar, sobreviver. As partidas mostram sempre novos caminhos de liberdade, fraternidade, solidariedade e dignidade que vale a pena trilhar. As partidas também dão coragem para fazer coisas novas que dão tanto sentido à vida.
Vale a pena partir quando a bagagem é composta por afectos que cabem confortavelmente no coração e os cd's se arrumam facilmente na pequena mochila.

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