"Pelo sonho é que vamos, Comovidos e mudos. Chegamos? Não chegamos? Haja ou não frutos, Pelo Sonho é que vamos. Basta a fé no que temos. Basta a esperança naquilo Que talvez não teremos. Basta que a alma demos, Com a mesma alegria, ao que é do dia-a-dia. Chegamos? Não chegamos? Partimos. Vamos. Somos" - Sebastião da Gama,in "Pelo Sonho é que Vamos"
sexta-feira, 27 de julho de 2007
Paraíso a preto e branco
Aqui me reencontro quando preciso de lavar a alma. Ainda me lembro da paisagem original, deste preto e branco tão colorido no meus olhos de menina, quando tudo me parecia ainda muito maior. Aqui me deixo embalar pelas ondas que ainda parecem querer embalar o meu soninho e os meus sonhos também...
Aqui sinto uma paz envolvente, protectora, comovente. Aqui, ainda consigo ouvir vozes de outros tempos, sussurros de ternura, recados de amor.
Nesta praia construí mil castelos de areia e outros mil barcos que nunca vão navegar. Nesta praia deliciei-me com o canto das gaivotas, reguei castelos e barquinhos - para que nunca secassem debaixo do sol escaldante de Agosto - como quem rega sonhos.
Os meus castelos - de areia - foram tomados pela força natural das águas. Os meus barcos naufragaram p'la minha inocência de menina. Os meus sonhos cresceram e alguns frutificaram, pela força de uma esperança que os sussurros do mar embalaram juntamente com a minha meninice feliz.
Nesta praia, fui princesa de todos os mares, companheira e cúmplice de todos os espadartes de Sesimbra; com eles cavalguei ondas de sonho e (quase sem êxito) ondas de verdade. Nesta praia apanhei conchinhas e búzios com o meu avô, fiz bolos de areia para os peixinhos da baía e para as ondas que os devoravam com muito apetite e satisfação.
Nesta praia, no tempo em que ainda era a preto e branco, tropecei em quinhentas "pitas" e outros tantos anzóis, encantei-me com as histórias de verdade dos "velhos" pescadores, ouvi muitas vezes o relato triste do ciclone de 1941 e de outras tragédias que envolveram homens e barcos desta Sesimbra, que tanto me encanta e comove.
Nesta praia, a preto a branco, aprendi que as cores estão nos nossos olhos, aprendi que a razão nem sempre é justa e aprendi ainda - e muito - que vale sempre a pena lutar; quando a alma não é pequena e o sonho também!
Nesta praia, vi homens "varados" pela força das águas chorarem em terra firme e segura, homens de rosto duro - bronzeado de sol e de mar - salgado e tão doce, desfazerem-se em lágrimas só de pensar na tormenta passada; os mesmos homens que me diziam que o mar vale a pena, mesmo quando nos faz chorar.
Nesta praia, sou mais eu, mais forte... mesmo quando a saudade fala mais alto. Nesta praia de todas as cores, alimento-me de mar, paisagem e emoções e continuo - ainda mais - a acreditar...
Foto Mestre Cabecinha
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1 comentário:
Gostei imenso desta foto
A praia era assim nos anos 70, onde passava 4 horas por dia por 3 meses por ano, era uma maravilha de prazeres, um reino diferente
abraços
Constança
http://constancalucas.blog.uol.com.br/
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