domingo, 12 de agosto de 2007

Quase um poema de amor

Há muito tempo que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.

Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
- Há muito tempo que eu já não escrevo um poema
De amor.


Miguel Torga
(Coimbra, 7 de Fevereiro de 1950)

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